April 22, 2016

Vestida para APRENDER!


Mafalda Ribeiro tem 32 anos de uma vida invulgar. 

Estudou jornalismo, mas foi técnica de comunicação numa empresa de ambiente. Não é jornalista na prática, mas é o gosto pelas letras que faz mover a sua cabeça, ainda que as pernas não lhe obedeçam. Fez uma certificação em Coaching Internacional e é oradora motivacional. É convidada para falar em público acerca da sua visão otimista da vida em empresas, escolas, seminários e foi ainda oradora numa Ignite e dois TEDx. É voluntária em projetos de solidariedade social, tem um olhar humanista e aguçado do mundo e por isso dá a cara e a voz pela inclusão e pela igualdade de oportunidades, sempre que lhe dão tempo de antena. Mafalda Ribeiro não vê limites diante das suas limitações.


“O que quero que me defina é a minha atitude no momento em que preciso de aprender a esperar pelo momento certo que eu não controlo (…) no outro dia, tive mesmo de dormir vestida para aprender”, conta Mafalda Ribeiro numa entrevista à VISÃO.


Mais do que um testemunho pessoal, o que aconteceu à Mafalda e o modo como ela encarou a situação, acaba por realçar o valor da entreajuda, porque na verdade todos dependemos, de alguma forma, uns dos outros.

“Totalmente despida de vergonha do que aconteceu, conto-vos o que foi um ‘valente azar’, na possível avaliação de quem vê isto da vida como uma sucessão de acontecimentos aleatórios. Era véspera de um dia importante para mim. Uns dias antes, tinha comprado um vestido novo para estrear nessa ocasião. Era o meu número, portanto pendurei-o, mas não o experimentei. Estava a preparar-me para ir dormir, quando olhei para ele e pensei: afinal não tenho tudo preparado para amanhã. E se o vestido não me serve? Mais vale saber já hoje, do que ter uma surpresa amanhã de manhã e começar o dia aborrecida. Ao menos tenho tudo ‘controlado’. Achava eu e é o que achamos todos, afinal nós é que controlamos isto. Despi o pijama, à exceção de uma camisola interior justa ao corpo. Vesti o vestido novo por cima e fui ver-me ao espelho. Incrível, assentava-me como uma luva! Até parecia que tinha sido feito para mim. Sorri, como que a elogiar-me, ainda ao espelho, e à minha decisão de ter comprado aquele vestido. Pronto, já podia ir deitar-me, pois dali a poucas horas estaria de pé outra vez (salvo seja!) para um dia cheio de emoções. Fiz a minha manobra habitual, com os meus braços curtos e deformados para despir o vestido e… ups… então? O vestido não queria sair! Sem fechos, botões, aberturas, nada que me pudesse facilitar. Parecia que estava enfiada dentro de uma camisa-de-forças. O maldito vestido entrou facilmente, só que para sair só tinha duas hipóteses. Estragá-lo, com a ajuda de um objeto cortante. Ou recorrer à ajuda de outra pessoa para, literalmente, me içar os braços e puxar o vestido. Onde estava essa pessoa? Eram três e tal da manhã, eu vivo sozinha e… quem me mandou a mim ter ido vestir o vestido àquela hora? Num impulso, fui à cozinha, peguei na primeira faca que encontrei e voltei para a frente do espelho. O cenário era hilariante e felizmente não durou mais do que alguns minutos: eu a olhar para mim, com uma faca em riste, quase maior do que eu, prestes a “esfrangalhar” um vestido que entrou mas não saía. E se me “esfrangalhasse” a mim? Com o jeitinho que eu tenho para manusear facas, era o mais certo! Pousei a faca. Baixei os braços e deixei de lutar contra aquilo que não podia controlar. Rendi-me sem soltar uma lágrima ou iniciar uma depressão. Soltei uma gargalhada, pela minha figura. Agradeci a lucidez de ser capaz de aceitar que aquele bendito vestido tinha vindo afinal para me ensinar muito acerca do que significa a dependência, a paciência na espera e a beleza que há em pedir ajuda. Sorri outra vez para o meu reflexo e continuava a sentir-me bonita. Vesti o pijama por cima do vestido e fui para a cama. É que no dia seguinte alguém iria levantar-me os braços, como tem levantado sempre que me canso nas lutas, e o vestido continuaria a ser apenas um vestido, que já nem faria parte de mim”.



Eu sou aquela que despida de preconceitos assume: “Preciso dos outros e sou abençoada por isso. Antes eles que comprimidos”



Mais no blog Mafaldisses

Fonte: Revista VISÃO



Para o Minuto Acessível, 
deixe aqui o seu contributo: minuto.acessivel@gmail.com