December 14, 2013

O Arquiteto, a Cidade e a Calçada!


“A arquitetura só pode ser capacitante se os arquitetos desenvolverem empatia”, afirmou Raymond Lifchez


O discurso arquitetónico não consegue alinhar-se com as necessidades sociais e éticas da cidade contemporânea. Com a relação tensa entre a teoria e a prática, a irrelevância social no design é onipresente. Os arquitetos que praticam a profissão veem frequentemente a teoria como esotérica e não-transferível, enquanto muitos teóricos não manifestam as suas ideias na realidade através da construção. 
Como disse Albert Einstein: “Se os factos não encaixam na teoria, mudem-se os factos”. Para se entender melhor este pensamento de Einstein, quando enquadrado na temática da acessibilidade, seria verdadeiramente interessante que o ‘Arquiteto’ alugasse uma cadeira de rodas e tentasse ver por si mesmo se os factos se encaixavam na prática arquitetónica dominante. 
Em tese, a sua cadeira de rodas alugada seria a sua fortaleza. Contudo, simultaneamente, seria a sua maior inimiga. As rodas seriam a sua primeira e única defesa, mas seriam também o seu fardo.
Rapidamente ficava a conhecer uma nova realidade, complexa e desconcertante, já que ao escrutinar e ao dissecar a superfície de um passeio em calçada, percebia que a maioria das zonas que antes lhe eram acessíveis tinham deixado de o ser. O piso inadequado da calçada, consubstanciado nas ranhuras entre as pedras e no desnível continuado, subitamente transforma-se numa montanha, impedindo cruelmente a progressão e tornando os pequenos avanços esgotantes. 
O artigo 9.º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas, sobre ‘Acessibilidade’, afirma que todas as partes devem tomar medidas apropriadas para assegurar que as pessoas com deficiência estejam em condições de igualdade com os demais. Em poucas horas, um cidadão com Mobilidade Reduzida que pretenda deslocar-se em Lisboa, recorrendo a uma cadeira de rodas manual, vê os seus direitos humanos mais básicos violados. 
Estas violações, estas barreiras silenciosas, podem ser gradualmente removidas com ativismo social. Contudo, a ARQUITETURA tem aqui um papel absolutamente essencial para derrubar estes estigmas. Se as barreiras físicas forem derrubadas, então as barreiras sociais seguir-se-ão rapidamente. Há um desconforto latente na sociedade em relação às pessoas com deficiência. Quando a nossa cidade for construída para todos, os preconceitos desparecerão.

Em linha com o exposto, fica aqui um exemplo recente do divórcio entre a Arquitetura e a Acessibilidade, o ultimo ex-libris da Câmara Municipal de Lisboa:

“Não podemos resolver problemas com o mesmo tipo de pensamento que usávamos quando os criávamos.”  Albert Einstein.


Fonte: Inspirado por archdaily

Para o Minuto Acessível,
deixe aqui o seu contributo: minuto.acessivel@gmail.com